A escalada de tensões comerciais entre Estados Unidos e China ganhou um novo e significativo capítulo na tarde desta quarta-feira, (9).
O presidente Donald Trump autorizou um aumento nas tarifas sobre produtos chineses, elevando-as para 125%, em um movimento que impacta – e talvez reconfigure – pesadamente o mercado global de energias renováveis, setor onde país asiático mantém liderança incontestável.
Nova dimensão do protecionismo americano
Em pronunciamento há poucas horas, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, esclareceu que a dramática elevação tarifária direcionada especificamente à China consiste em uma resposta direta ao que Washington classificou como “insistência na escalada” por parte de Pequim.
Simultaneamente, Trump anunciou uma pausa estratégica de 90 dias nas tarifas destinadas à maioria dos outros países, sinalizando um movimento calculado que visa isolar os chineses enquanto preserva relações comerciais com parceiros que se abstiveram de retaliações.
“Não retaliem, e vocês serão recompensados”, declarou Bessent, deixando clara a lógica por trás da estratégia diferenciada. Contudo, parceiros comerciais tradicionais como México e Canadá permanecerão sujeitos às tarifas básicas de 10%, conforme informou o secretário.
Impactos amplificados no setor de energia solar
O novo tarifário pode resultar em consequências ainda mais profundas para o setor de energia renovável, particularmente o segmento solar, onde a dependência americana de componentes e tecnologias chinesas é mais acentuada.
Com tarifas que agora atingem 125%, o custo de importação de tecnologias solares chinesas torna-se praticamente proibitivo, o que deve forçar uma reorganização acelerada das cadeias de suprimento – o que, claro, ainda ficará à mercê de novos anúncios supresas. Ou a ausência deles.
Analistas do setor têm sido cautelosos, mas preveem um impacto devastador na cadeia de valor solar global. A nova realidade tarifária não apenas compromete a viabilidade econômica de projetos solares planejados em território americano, mas também ameaça desestabilizar o delicado equilíbrio de preços que vinha permitindo a expansão contínua da energia solar como alternativa economicamente viável aos combustíveis fósseis.
Hegemonia chinesa sob pressão
A China, responsável por aproximadamente 83% da produção mundial de painéis solares em 2023, enfrenta agora um desafio sem precedentes à sua posição dominante no mercado americano.
A estratégia de desenvolvimento industrial chinesa foi fundamentada em décadas de investimentos sistemáticos em capacidade produtiva e inovação tecnológica. O impacto potencial dessas medidas transcende significativamente o âmbito comercial bilateral, com repercussões em múltiplas dimensões.
São afetados, aspectos ambientais (com a potencial desaceleração da transição energética), geopolíticos (a partir da reconfiguração de alianças estratégicas), tecnológicos (pela redistribuição de capacidades de inovação) e sociais (por conta da possível elevação de custos energéticos para consumidores finais).
A nova realidade apresenta também dilemas complexos para países em desenvolvimento que vinham se beneficiando da disponibilidade de tecnologias solares chinesas a preços competitivos.
A reconfiguração do mercado global sob o impacto das tarifas americanas de 125% ameaça comprometer a acessibilidade destas tecnologias precisamente quando sua adoção acelerada é considerada determinante para o cumprimento de metas climáticas globais.
Negociações e perspectivas de resolução
Em declarações pouco após o anúncio da super tarifa, Trump caracterizou as medidas como potencialmente “temporárias”, acrescentando acreditar que “a China quer fazer um acordo, só não sabem bem como fazê-lo”.
A sinalização abre espaço para possíveis negociações que poderiam resultar em alguma moderação das medidas anunciadas. Contudo, especialistas observam que ciclos anteriores sugerem um caminho potencialmente acidentado para qualquer resolução negociada.
A complexidade das divergências estruturais entre os dois países e o contexto político interno americano diminuem consideravelmente as perspectivas de um acordo abrangente no curto prazo.
Implicações geopolíticas e tecnológicas
As implicações desta escalada tarifária estendem-se para além das relações comerciais bilaterais, afetando também a competição tecnológica global no campo das energias limpas.
Para os Estados Unidos, as tarifas de 125% representam uma aposta arriscada: forçar o desenvolvimento acelerado de capacidade produtiva doméstica, potencialmente à custa da elevação significativa dos custos de transição energética no curto e médio prazo.
A China, por sua vez, provavelmente intensificará seus esforços para diversificar mercados de exportação, priorizando ainda mais iniciativas como a Belt and Road Initiative (BRI) para consolidar sua influência em mercados emergentes na África, Ásia e América Latina.
O país asiático também poderá acelerar investimentos em inovações tecnológicas que incrementem ainda mais sua competitividade em segmentos avançados como células solares de alta eficiência e sistemas de armazenamento energético.
Perspectivas de futuro em cenário incerto
No futuro da transição energética global, para além dos impactos comerciais imediatos, está em jogo a própria arquitetura do sistema energético mundial nas próximas décadas.
A tensão entre imperativos de soberania tecnológica e a necessidade urgente de aceleração da adoção de tecnologias limpas para mitigação das mudanças climáticas emerge como um dos dilemas centrais deste novo cenário.
A reorganização de cadeias globais de valor no setor de energia renovável, catalisada pela escalada tarifária, testará não apenas a resiliência do mercado, mas também a capacidade da comunidade internacional de equilibrar objetivos aparentemente conflitantes de segurança econômica nacional e cooperação climática global.
À medida que o prazo de 90 dias da pausa tarifária avançar, governos, empresas e investidores do setor energético global devem atravessar um horizonte marcado por incertezas sem precedentes, onde decisões estratégicas definirão não apenas o sucesso comercial individual, mas potencialmente a própria viabilidade dos objetivos climáticos coletivos estabelecidos pela comunidade internacional.
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FONTE: PORTAL EXAME