‘Estive em um relacionamento abusivo’

A deputada federal Marussa Boldrin (MDB/GO) revelou publicamente, nesta segunda-feira (28/4), ter sofrido violências físicas e emocionais por parte do marido, o advogado Sinomar Júnior, ex-superintendente de Esporte e Lazer da Secretaria Estadual de Educação de Goiás. Marussa é engenheira agrônoma e tem carreira política iniciada em Rio Verde, apoiada no agronegócio,

A carta, intitulada “Por todas as mulheres que já silenciaram sua dor”, descreve situações de humilhação, sabotagem profissional, traições, insultos e duas agressões físicas. No relato compartilhado nas redes sociais, a congressista detalha anos de maus-tratos dentro de casa e destacou que a violência resultou em espancamentos em dois momentos, o mais recente no começo de 2025.

Depois do caso mais violento, a deputada declarou ter buscado a polícia, feito um boletim de ocorrência, passado por exame médico e pedido uma medida protetiva. O divórcio já foi finalizado, e a custódia dos filhos ficou com ela.

“Eu estive em um relacionamento abusivo. Dizer isso em voz alta já é, por si só, um ato de coragem”, escreveu Marussa.

No depoimento, ela menciona que os casos de agressão começaram pouco depois do nascimento da primeira filha do casal e pioraram com o tempo.

A parlamentar conta que enquanto construía sua carreira política, vivia, simultaneamente, um ambiente de desrespeito, humilhações e violência no espaço privado.

“Enquanto eu lutava na vida pública, ele me sabotava na vida privada”, afirmou.

Ela relata que o ex-marido menosprezava sua trajetória política e a ofendia verbalmente, utilizando “palavras de baixo calão”, segundo ela, para criticar seu trabalho.

A deputada também confessou ter tentado salvar o casamento mesmo após descobrir adultérios.

“Engravidei do segundo filho mais uma vez tentando corrigir a rota do abuso com amor. Ao invés da relação dar sinais de melhora, os abusos se transformaram em pesadelos diários”, desabafou.

O primeiro ataque físico teria acontecido em 2023. De acordo com a congressista, por temor e constrangimento, Marussa explicou que se calou para tentar “preservar a estrutura familiar”, especialmente pelos filhos.

No início de 2025, ao optar pela separação definitiva, a crueldade aumentou.

“Ele me espancou pela segunda vez, agora com mais intensidade. E finalmente resolvi falar”, completou, alertando sobre possíveis tentativas de desacreditar sua revelação.

“Vão usar desse infeliz episódio como uma manobra política para tentar abafar os abusos que vivi em troca de desgaste de imagem e eu não vou aceitar isso”, declarou.

Em sua mensagem, Marussa ainda dirigiu um apelo às mulheres em situações parecidas: “Não tenha medo de denunciar, de pedir ajuda, de buscar sua liberdade”.

Veja íntegra da carta publicada por Marussa

CARTA ABERTA

Por todas as mulheres que já silenciaram sua dor

Eu estive em um relacionamento abusivo. Dizer isso em voz alta já é, por si só, um ato de coragem. Durante anos, fui silenciada dentro da minha própria casa. Fui desvalorizada, desacreditada, diminuída como mulher, como mãe e como profissional. E, por muito tempo, acreditei que suportar em silêncio era o caminho. Hoje, sei que não era.

Me casei acreditando no amor, acreditando na parceria. Tínhamos uma filha a caminho, uma vida inteira pela frente e muitos sonhos a serem vividos. Mas, logo após o nascimento da minha primeira filha, o homem que havia jurado cuidar de mim se afastou, emocional e fisicamente, e as agressões psicológicas começaram. Eu tentava compreender, tentava reconectar, insistia no que já não existia. Não casei para separar – repeti isso tantas vezes para mim mesma.

Insisti, mesmo quando ele passou a me ferir com palavras. Quando dizia que meu trabalho não prestava, que eu era incompetente. Quando desdenhava do meu mandato, usando até mesmo palavras de baixo calão. Quando dizia sentir nojo do meu leite enquanto eu amamentava. Ainda assim, eu me calava. Por medo, por vergonha, por acreditar que tudo ia mudar. Eu me calei. E me arrependo profundamente de ter silenciado a minha voz.

Enquanto eu lutava na vida pública, ele me sabotava na vida privada. Nunca me apoiou com sinceridade, apenas por conveniência. Nem mesmo compareceu à minha posse de reeleição como vereadora. Eu seguia tentando. Mesmo depois de descobrir uma traição, em que a outra pessoa chegou a me mandar mensagem expondo o relacionamento entre eles, tentei reconstruir. Engravidei do segundo filho mais uma vez tentando corrigir a rota do abuso com amor. Ao invés da relação dar sinais de melhora, os abusos se transformaram em pesadelos diários e a pressão psicológica e moral passaram a ser regra dentro de um lar que deveria ser um porto seguro.

Fui xingada, maltratada, ameaçada e humilhada criando, infelizmente, uma rotina de sofrimento. Me agarrei à falsa esperança de que o amor pudesse curar o que, na verdade, era abuso. Mas não há cura quando não há respeito. Não há reconstrução possível onde há destruição emocional diária.

A distância entre nós passou a ser questão de segurança para mim e quando decidi avançar na política almejando um cargo maior, ele se reaproximou – não por mim, mas pelo interesse no que eu representava.

E, mais uma vez, me iludi acreditando que a prestatividade dele era real, mas o tempo provou que eu estava errada. Ele continuou a me machucar psicologicamente e a me humilhar moralmente. E, em 2023, ultrapassou todos os limites: me agrediu fisicamente pela primeira vez. Eu tive medo. Tive vergonha e optei por não contar nem para minha família, que já havia entendido o relacionamento abusivo em que eu estava.

Pensando em proteger nossos filhos do trauma de um divórcio e com medo de expor minha vida em público, decidi seguir com medo.

Nos últimos tempos, minha vida ganhou intensidade. Me dividi entre Brasília e meus filhos, entre compromissos e a maternidade. Direcionei todo meu amor para meus pequenos. Sempre fui mãe, mesmo sob ameaças. Mesmo ouvindo gritos e ofensas e sofrendo agressões. Passamos a coexistir no mesmo ambiente, dividindo apenas o mesmo teto. Eu estava sozinha, buscando forças para sair de um relacionamento que nunca deveria ter sido construído. Em 2025 resolvi seguir com minha vida para tentar voltar a ter paz, ele reagiu com ódio e me espancou pela segunda vez, agora com mais intensidade. E finalmente resolvi falar. Tive coragem de procurar a delegacia, de fazer o boletim de ocorrência, o corpo de delito, e pedir uma medida protetiva. Porque não cabe amor onde existe violência.

Eu sobrevivi.

Busquei em Deus a força e a coragem que eu precisava, e agora, finalmente, eu falei. Falei por mim e por todas as mulheres que sofrem em silêncio. Falei porque quero viver feliz, e a felicidade só é possível com paz. Tomei meu primeiro passo para romper de vez esse ciclo. Meu divórcio já foi consumado pela justiça que entendeu os abusos que vivi e me garantiu a guarda dos meus filhos.

A justiça já conhece a minha verdade, e sei que para uma pessoa que só conhece a agressão, falta a ele tentar agredir minha imagem de maneira pública. Vão usar desse infeliz episódio como uma manobra política para tentar abafar os abusos que vivi em troca de desgaste de imagem e eu não vou aceitar isso.

Eu vou resistir assim como eu já resisti aos abusos morais e físicos. Eu sei que tenho a verdade ao meu lado — e mais: tenho minha história, meu trabalho limpo e o apoio de quem sempre me viu com respeito.

Não quero mais carregar essa dor calada. Não quero mais fingir que está tudo bem. Não aceito mais ser abusada, nem física, nem moral, nem psicologicamente. E se você, mulher, estiver lendo isso e vivendo algo parecido, saiba: você não está sozinha. Não tenha medo de denunciar, de pedir ajuda, de buscar sua liberdade.

Hoje, eu começo a escrever um novo capítulo da minha vida. Um capítulo de cura, de força, de dignidade.

Por mim. Pelos meus filhos. Por todas nós.

Marussa



FONTE : PORTAL NOTICIAS GOIAS

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